A Travessia Psicanalítica é um espaço de formação continuada em psicanálise e suas investigações são orientadas por Freud, Lacan e pós-lacanianos.
É coordenada pelo psicanalista e escritor Wesley Peres e Renata Wirthmann.
Para compreender melhor a proposta da Travessia Psicanalítica, convido ao percurso pelo texto de Lacan sobre o Psicanalista.
Em Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola, Lacan (1967/2003) apresenta um modelo de formação do analista implicado com o compromisso de ser permanente, contínuo e, principalmente, que seja responsabilizado e autorizado exclusivamente pelo próprio analista: “o psicanalista só se autoriza de si mesmo” (Lacan, 1967/2003). Esta autorização depende de “um real em jogo na própria formação do psicanalista”, que marca não só a formação do analista, mas de toda a sociedade: “Afirmamos que as sociedades existentes fundam-se nesse real” (Lacan, 1967/2003).
Esse real, é importante lembrar, sempre “provoca seu próprio desconhecimento, ou até produz sua negação sistemática” (Lacan, 1967/2003), por isso “não cessa de não se escrever”, de modo que a formação também nunca cessa e o saber nunca se conclui. O real leva, portanto, ao impossível de uma formação que se conclua num diploma ou certificado. O real também evidencia que toda construção teórica é sempre construção e que “nenhum ensino fala do que é a psicanálise” (Lacan, 1967/2003).
Diante desta proposta, Lacan aponta que nenhum analista pode dar por encerrada a sua formação. Nenhum analista pode vir a considerar completa sua travessia psicanalítica: “É esse o efeito que lança sua sombra sobre a prática da psicanálise – cujo término, objeto e até objetivo revelam-se inarticuláveis” (Lacan, 1967/2003).
Em consonância com os ensinos de Freud e Lacan, apresento como proposta de formação aberta e continuada da Travessia Psicanalítica:
A travessia fundamental equivale à queda da ilusão de que haja alguma garantia absoluta, de que haja algo que realize absolutamente o desejo e que o faça desaparecer. Atravessar a fantasia é integrar subjetivamente a única verdade absoluta: a de que qualquer coisa pode acontecer (Wesley Peres).
Com Guimarães Rosa (1994, p. 86) propomos, diante do real, a formação do analista como travessia: “o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”. Podemos afirmar que não temos uma resposta definitiva para a formação do psicanalista ou para o saber em Psicanálise. E, se não há um sentido que baste para dizê-la, resta, diante do que não se pode falar, ao menos semi-dizer. A formação do analista nos aponta para articulações que giram em torno de um ponto vazio, sobre o qual só podemos dizer contornando. Paradoxalmente, é só com os pés na linguagem que podemos tangenciar o Real.
Nosso percurso tem no horizonte, portanto, esse paradoxo: falar do que não é linguagem. Trata-se assim de bordejar o inabordável. Diante do intransmissível, do impossível, do inabordável e do não-todo, convido a um semi-dizer sobre alguns temas e conceitos fundamentais da psicanálise de Freud e Lacan.
Travessia Editorial
Travessia Editorial é o selo editorial da Travessia Psicanalítica, voltado à publicação de obras que contribuam para o debate da teoria e prática da psicanálise com base em Freud, Lacan e pós-lacanianos. Nosso catálogo tem como objetivo sustentar e transmitir a elaboração teórica e clínica que atravessa a formação do analista, em diálogo com as questões éticas, culturais e sociais que se impõem na atualidade.
A proposta editorial nasce do compromisso com uma psicanálise viva, implicada com o real do sujeito, e atenta às formas pelas quais o inconsciente se articula em diferentes campos da experiência – na infância, na cultura, na clínica do autismo, nas práticas educativas, nas relações de gênero, na arte, na linguagem, entre outros atravessamentos.
A Travessia Editorial se propõe como um espaço de escrita e leitura, de transmissão e criação, sustentado por um trabalho ético de escuta e de elaboração do texto. Cada publicação é compreendida como extensão da formação em psicanálise – como lugar em que se inscreve uma leitura, uma posição subjetiva e uma contribuição singular ao campo.
Com um projeto gráfico cuidadoso e um processo editorial comprometido com a qualidade e o rigor teórico, buscamos oferecer livros que sejam também dispositivos de formação e de interlocução entre analistas, pesquisadores e leitores interessados na psicanálise em sua interface com o mundo contemporâneo.
Linhas editoriais
Coletâneas e livros autorais sobre psicanálise de orientação freudiana e lacaniana;
Dissertações e teses com relevância teórica e clínica, transformadas em obras acessíveis ao público mais amplo;
Ensaios e obras interdisciplinares que proponham articulações entre a psicanálise e os debates culturais contemporâneos.